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Com 80% de redução no desperdício na merenda da Escola Tengatuí, o piloto AEI em Dourados chega ao fim

Foto: Lemobs

Lemobs em Dourados

A primeira edição do programa Ecco Comunidades possibilitou que os  970 alunos da Escola Municipal Indígena Tengatuí Marangatú sentissem os benefícios das ferramentas do sistema AEI. A solução foi utilizada para otimizar os processos de alimentação escolar ao mesmo tempo em que atua para garantir adequação nutricional e redução do desperdício de alimentos. 

O sistema Alimentação Escolar Inteligente (AEI) implementado em versão gratuita no projeto piloto foi planejado como um instrumento de apoio aos nutricionistas, diretores e cozinheiras. A solução facilita a construção de cardápios que oferecem alimentação saudável para os alunos da escola Tengatuí localizada na Reserva Indígena de Dourados (RID), no Mato Grosso do Sul.

Capacitações dialogadas

Durante os meses de abril, maio e junho, nas visitas à Tengatuí Marangatú, aconteceram capacitações dialogadas dirigidas às cozinheiras além de conversas com a direção e professores com a finalidade de capacitar a equipe para a elaboração de refeições saudáveis auxiliando na redução do desperdício. 

Entre essas capacitações foram debatidos temas como aproveitamento integral dos alimentos, cardápios, fichas de preparo, porcionamento e apresentação dos pratos, separação e descarte de resíduos. Após a realização, a cozinheira Ana Laura reforçou a importância do curso: “A gente teve a capacitação, colocamos em prática para ver o erro. Foi instruído diminuir os carboidratos na porcentagem correta, aumentei as proteínas vegetais e também aumentei a proteína animal. Não teve sobra e teve muita repetição. Foi legal a capacitação porque é uma coisa que não é apresentada a gente. Foi legal porque a gente não tinha essa noção.”

Foto: Lemobs

Além disso, “Cultura e hábitos alimentares indígenas” foi outra capacitação com objetivo de resgate e valorização de costumes alimentares da aldeia Jaguapiru. Nas palavras da ex-cozinheira e atualmente professora Lidimara Valerio “É muita pouca criança que rejeita uma alimentação da escola. Às vezes na casa os pais são assalariados, eles vão comprar o básico, tipo arroz, feijão, uma mistura. Nunca sobra, quase, para uma família que tem bastante criança para comprar esses alimentos diferentes. E onde eles vão receber? Na escola. Sou a favor que as crianças tenham uma alimentação saudável, uma alimentação diferente, porque a maioria das nossas crianças vêm para escola também para se alimentar, e esse alimento que eles recebem tem que ser um alimento bom, de qualidade e diferente.”  

No total, foram 36 horas de capacitações dialogadas divididas em 8 encontros, 2 oficinas práticas sobre estratégias de redução e acompanhamento de desperdício. Participaram as quatro cozinheiras responsáveis e as cinco assistentes que atuam  na cozinha do prédio principal e nas duas extensões da escola.  Nas 10 semanas de trabalho direcionado ao preparo das refeições foram elaborados 48 cardápios e 58 fichas de preparo.

Resultados

As capacitações cumpriram com a proposta de aprimorar as práticas e conhecimentos das cozinheiras para a elaboração das refeições reproduzindo as indicações dos cardápios e utilizando fichas de preparos com indicação do per capita segundo as faixas etárias dos alunos. Também foram apresentadas melhores formas de porcionamento e apresentação dos pratos como estratégias para minimizar as sobras. 

O monitoramento das sobras foi mantido por 10 semanas nos diferentes turnos (manhã e tarde) com a realização de pesagem após as refeições,constatando que o desperdício dos alimentos que restam nos pratos era um número expressivo. Através do foco no porcionamento e cálculo de quantidades adequadas de alimentos, o projeto, cujo objetivo principal era a redução do desperdício inserido no contexto da alimentação escolar, teve êxito e chegou a reduzir as perdas para  menos de 1kg por refeições.

A meta inicial era reduzir em 10% as sobras nos pratos, entretanto, o resultado foi melhor do que o esperado. Entre a primeira e terceira semana, antes das capacitações, a sobra dos pratos servidos foi de, em média, 22,1 kg por dia, equivalente a 11% do total. Entre a oitava e a décima semana a média foi de 4,29 kg por dia, reduzindo as sobras para 1,9%. Com a implementação do piloto, em 2 meses foi possível reduzir em 77,8% o desperdício. Mais de 12 mil crianças podem se alimentar a partir dessa economia, o equivalente a 1 mês de refeições na Escola Tengatuí. Considerando essa redução do desperdício, 3,4 toneladas de alimentos podem ser salvas em um ano letivo de 200 dias, caso as mudanças implantadas forem mantidas.

 Os resultados são  expressivos, mas os ganhos com a implementação do piloto vão além de estatísticas. A mobilização da comunidade escolar em relação ao desperdício de alimentos terá efeitos de longo prazo. A mudança de comportamento das crianças sobre alimentação pode ser levada para suas famílias. As capacitações dialogadas ajudaram a suprir lacunas de aprendizagem, onde as cozinheiras foram motivadas e empoderadas, obtendo melhoria nos resultados do trabalho após aprenderem a usar os instrumentos oferecidos pelo sistema AEI. 

O impacto do piloto na Escola Tengatuí também deu visibilidade para o maior problema, que é a pouca oferta de alimentos variados e muitas vezes em volume, tendo dificuldades com os fornecedores. Além disso, foi importante o fortalecimento da horta, a roça da escola, o monitoramento das sobras e a separação do lixo e destinação dos resíduos orgânicos para a compostagem. 

Rubens Rosário, diretor da escola, fala sobre a experiência piloto:Quero agradecer esse projeto que veio para somar com a nossa comunidade, nossos alunos. Já havia preocupação em relação ao desperdício há muito tempo, esse projeto veio nos ajudar, ajudar as cozinheiras a melhorar o não desperdício dos alimentos. Melhorou muito, teve um avanço muito significativo quanto a economia. A mudança foi em questão de alimento de qualidade e não de quantidade. A gente se preocupava muito com a quantidade, servia bastante alimento, só que desperdiçava muito também. Agora eles estão comendo pequena porção e com mais qualidade e está tendo bastante aceitação pelos alunos. Isso acontecendo na escola com certeza eles vão levar para a família também, a economia, o não desperdício, isso foi muito importante. Muitos dependem da merenda da escola. O ideal seria continuar. É a primeira vez na nossa escola que temos acompanhamento de perto dos nutricionistas. Muito bom para nossa comunidade e nossas cozinheiras.”

Foto: Lemobs

Agradecimentos, mentoria e parceiros

Estados e municípios recebem, do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), mais de 4 bilhões de recursos por ano para a compra de alimentos. Entretanto, partes desses recursos não chegam à mesa das crianças, devido a  problemas de gestão e desperdício de alimentos. O sistema AEI, com seu propósito de impactar positivamente nesses atributos e contribuir para o avanço nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS): Fome Zero, Boa Saúde, Educação de Qualidade e Consumo Responsável, cumpriu com seus objetivos durante a implementação do piloto em Dourados.

A parceria com o Instituto BRF foi essencial para a realização dessa experiência, viabilizando as visitas e acompanhamento no território, assim como toda a mentoria do Quintessa e Prosas que nos apoiaram na interlocução com os principais atores criando redes de contato durante todo o programa Ecco Comunidades. Outros agentes que estiveram em campo semanalmente realizando as medições e acompanhando as evoluções desse piloto foram a  Empresa Júnior SALUT da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) e a nutricionista indígena Letícia Lopes. Agradecemos ao Cajetano Vera, professor indígena que demonstrou interesse pelo programa Ecco Comunidades e desde o começo auxiliou na conexão entre Escola Municipal Indígena Tengatuí Marangatú e Lemobs, e ao Rubens Rosário, diretor que possibilitou a implementação e não mediram esforços para nos auxiliar em tudo que precisávamos.

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