Ainda que o uso de produtos com conexão à rede seja algo presente na nossa rotina há um bom tempo, com a chegada da tecnologia 5G a tendência é que o cenário seja transformado e que o mercado tecnológico dispare ainda mais nos próximos anos.
A Internet das Coisas (IoT) é um exemplo de como a digitalização é uma realidade em nossas vidas. O conceito é nada mais do que objetos físicos que estão integrados a sensores, softwares e outras tecnologias, tendo o objetivo de trocar dados com outros dispositivos pela internet para obter a eficiência de um serviço. Esses dispositivos podem ser objetos domésticos comuns ou ferramentas industriais avançadas. Especialistas esperam que o número de dispositivos IoT aumente para cerca de 27 bilhões até 2025 e com a quinta geração de conectividade esse processo será facilitado.
Cem vezes mais rápido que o 4G, o 5G pode chegar a velocidade de 1 a 10 Gbps, levando mais dados e conseguindo operar com ondas menores. Com essa conquista, não só downloads e uploads se tornarão mais fáceis de serem realizados, como também a transmissão em tempo real, abrindo porta para as redes de streaming e também para as chamadas de vídeo sem delay, atingindo e aprimorando o cenário de educação e saúde online, bem como a agilização de armazenamento de dados na nuvem e outros diversos avanços.
Além do que foi apontado, a questão a ser debatida é: com a chegada do 5G entramos em uma nova era de inovação.
Conexão 5G em território nacional
No Brasil o 5G só é possível de ser utilizado em localizações em que a tecnologia foi liberada juntamente com dispositivos aptos para a conexão da quinta geração de rede.
Brasília foi a primeira a receber a conexão, entretanto não só na capital do Brasil como em outros estados e municípios, o 5G pode levar anos para entrar em plena funcionalidade devido a necessidade de instalação de antenas por parte das operadoras. Outras cidades que receberam a tecnologia foram: São Paulo, Porto Alegre, Belo Horizonte e João Pessoa. Ainda será necessário que as empresas obtenham algumas estratégias com a finalidade de proteger os dados e a privacidade dos conectados.
O cenário das Smart Cities
Por oferecer baixa latência, o 5G possibilita uma conexão maior que 100 dispositivos por metro quadrado, algo de extrema importância quando o assunto é a transformação das cidades. Com essa tecnologia as Cidades Inteligentes se tornarão cada vez mais pertinentes, principalmente em termos de serviço de vigilância e transmissão em tempo real de informações.
Essa transformação será feita com a integração de diversas tecnologias, da mais pessoal, como wearables (vestíveis com conexão à rede), indo até as de maior impacto aos cidadãos, adotadas pela gestão pública, que contribuam para uma boa saúde, bem-estar e melhoria da infraestrutura das cidades.
Há algum tempo que é notório o fato de que a digitalização das cidades é o futuro. A mudança, extremamente bem-vinda, é o 5G como um aliado dentro do cenário de serviços públicos que poderão ser prestados de formas mais eficientes.
A Lemobs vem se preparando para essa revolução. Para entender o que vem sendo discutido na Govtech entrevistamos o Ramon Miranda, Product Manager das soluções de Limpeza Urbana na Lemobs, que trouxe a sua visão dos benefícios do 5G para a gestão urbana no Brasil, especialmente dentro dos serviços de limpeza e manutenção das cidades. Confira como foi:
Em termos gerais, como o 5G pode causar impacto dentro do âmbito Cidades Inteligentes?
O 5G é a quinta geração de conectividade móvel e ele traz basicamente duas vantagens principais: baixa latência, que significa na prática maior eficiência e velocidade, e a segunda vantagem é a maior capacidade de ter dispositivos e pessoas conectadas simultaneamente e de forma estável.
Para as cidades inteligentes essa melhoria na conectividade é fundamental porque basicamente ela vai permitir que outras tecnologias já existentes prosperem. A gente poderia falar de Internet das Coisas ou Internet de Todas as Coisas, onde no caso das cidades teríamos inúmeros objetos urbanos, pessoas e processos que utilizariam sensores e atuadores e estariam conectadas transmitindo informações em tempo real.
Uma outra tecnologia seria relacionada a robótica e agentes inteligentes. Você pode usar robôs, num ambiente físico, virtual, ou um drone, para entregar serviço aos cidadãos, às empresas e ao próprio setor público como um todo. Vale destacar o uso de gêmeos digitais, que seria uma modelagem da cidade como um todo, e nesse modelo você pode compartilhar dados para fazer simulações, permitir colaboração com cidadãos, com empresas, planejadores e gestores urbanos.
Aqui no Brasil estamos em um determinado nível de gestão urbana. Com a chegada do 5G, o que você acredita que pode ser mudado?
Isso é um desafio mais complexo. O 5G por si não garante. Se pegarmos pelo ponto de vista do saneamento, imagine uma pessoa com um iPhone 14 na mão, conectado no 5G, sendo que ela mora numa casa que despeja esgoto sem nenhum tratamento no rio. O que acontece: as tecnologias, sejam elas de saneamento ou sejam elas de conectividade, não se difundem de forma homogênea no território.
A difusão tecnológica depende de uma série de questões. É a difusão de como ela vai ser adotada pelos municípios e pelos gestores públicos. É uma questão em aberto. Mas sem dúvidas o 5G vai possibilitar um avanço de uma série de outras tecnologias que podem ser utilizadas para melhorar as gestões das cidades. Isso é uma questão que vai depender de outros aspectos sociais, econômicos, de arranjos institucionais e assim por diante.
Em relação aos serviços de limpeza e manutenção das cidades brasileiras, como o 5G pode contribuir?
Para limpeza urbana eu acredito que um dos principais impactos que ele vai ter vai ser na medida em que vai prosperar as tecnologias relacionadas à Internet das Coisas, principalmente porque vai poder melhorar muito os serviços de coleta de lixo na medida em que possibilita a conexão de veículos, lixeiras e cidadãos. Isso vai facilitar como um todo o cenário para você conseguir fazer uma gestão mais inteligente dos resíduos sólidos urbanos.
Para manutenção das cidades eu entendo que as tecnologias relacionadas à gêmeos digitais serão muito impactantes. Você basicamente constrói o modelo colaborativo e envolve cidadãos, planejadores, gestores e empresas e pode ter informações em tempo real do estado, dos equipamentos e dos elementos urbanos, quais precisam receber manutenção, quais estão sendo construídos e como é o desempenho deles ao longo do tempo.
Ramon Miranda é urbanista e doutorando em Eng. de Sistemas, é Product Manager da solução Coleta e especialista em Cidades Inteligentes.